23 maio 2013

APENAS SEU CORPO


Apenas seu corpo



Permaneceu atônita por algum tempo, sem que pudesse pronunciar nenhuma palavra, era como se todo o corpo dissesse para parar, estar ali, ensimesmado, numa volúpia de encantamento. O diálogo tornou-se monólogo, o olhar somente parecia atento, a boca ficou calada, sem resposta, sem o dizer. Ninguém percebeu nada, será? Para ela era como se tudo aquilo fosse transparente, demasiadamente transparente. Mas não, nada percebeu nada. Apenas seu corpo num por vir.

A boca foi, aos poucos, voltando a ter palavras para dizer. Não que elas fizessem muito sentido. Então, caminharam na direção do... não há lembrança. Os pés seguiam outros pés para não ter de fazer o caminho. O olhar procurava outra coisa, o olhar queria embasbacar-se novamente. O corpo queria que aquele instante tomasse-o por um tempo indeterminado.

Prosseguiu. Era preciso. O gosto do ar que lhe tocara a pele deixou um cheiro de quero mais. Disfarçou. Fechou os olhos e, num suspiro, continuou com as palavras, as pessoas, o chão, as paredes, a porta, os móveis, o respirar, o viver. Apenas seu corpo num por vir.



Um comentário:

Anônimo disse...


Senti falta dos seus textos, dessa doce agressividade deles. Parabéns!

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