Apenas seu corpo
Por
Vivian Marina
Permaneceu
atônita por algum tempo, sem que pudesse pronunciar nenhuma palavra, era como
se todo o corpo dissesse para parar, estar ali, ensimesmado, numa volúpia de
encantamento. O diálogo tornou-se monólogo, o olhar somente parecia atento, a
boca ficou calada, sem resposta, sem o dizer. Ninguém percebeu nada, será? Para
ela era como se tudo aquilo fosse transparente, demasiadamente transparente.
Mas não, nada percebeu nada. Apenas seu corpo num por vir.
A boca
foi, aos poucos, voltando a ter palavras para dizer. Não que elas fizessem
muito sentido. Então, caminharam na direção do... não há lembrança. Os pés
seguiam outros pés para não ter de fazer o caminho. O olhar procurava outra
coisa, o olhar queria embasbacar-se novamente. O corpo queria que aquele
instante tomasse-o por um tempo indeterminado.
Prosseguiu.
Era preciso. O gosto do ar que lhe tocara a pele deixou um cheiro de quero
mais. Disfarçou. Fechou os olhos e, num suspiro, continuou com as palavras, as
pessoas, o chão, as paredes, a porta, os móveis, o respirar, o viver. Apenas
seu corpo num por vir.
Um comentário:
Senti falta dos seus textos, dessa doce agressividade deles. Parabéns!
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