20 dezembro 2012

PALAVRAS E SILÊNCIOS

 
Palavras e silêncios


 
Havia um amontoado de palavras guardadas na estante. Ao primeiro olhar, pareciam todas quietas, inertes, adormecidas – e estavam. Esperavam, pois, apenas serem recolhidas por alguém que lhes desse vida. Esse tal alguém poderia arranjá-las de maneiras muito peculiares. E o que o silêncio daquelas palavras desejava era que fossem tratadas com delicadeza, que fossem escolhidas uma a uma numa composição suave, cheirando alecrim.

Silêncio ambicioso, mas, por que não desejar algo tão sincero? Ele, o silêncio, gostaria que as palavras fossem lidas com paixão, que aguçassem outras combinações, que fossem pintadas com grifa textos, circuladas, marcadas, (ab)usadas...

Enfim, alguém não apareceu. E as palavras, bem como seus silêncios, permaneceram ali, amontoadas na estante. Nenhuma frase fora formada, nenhum balbucio ousou soar, nenhum toque para lhes embaralhar, nem mesmo um vento, uma brisa, para tirar-lhes da estagnação.

Já desacreditadas, as palavras e seus silêncios olharam com o canto dos olhos e viram ninguém aparecer. Era franzino, silhueta delgada, quase quebradiço – será que se deixariam escrever por tamanha miséria? Foi quando ninguém lhes tateou com todo o cuidado, rearranjando-lhes os sentidos, dando-lhes, pois, aquilo que tanto desejaram – um pouco de zelo, para que, então, pudessem não mais estarem amontoadas na estante e sim enfeitadas e adornadas por ninguém!

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