22 novembro 2012

AOS PEDAÇOS



Aos pedaços


As flores estavam derramadas aos pedaços sem que fosse possível reconhecer suas vivas cores. Coberto, o chão respirava por pequenos clarões abertos pelo soprar do vento. Nada permanecia imóvel, nem os pedaços de flores, nem os pedaços de respiro. Ambos moviam-se como se estivessem dançando, numa coreografia que respondia ao sabor da brisa leve.

Barulhinho bom do arrastar das plantas naquilo que as (des)abrigava. Liberdade de balançar sem que as frestas lhes desviassem, sem que os becos lhes acumulassem, sem que os buracos lhes fizessem cair umas por cima das outras, sem que os desníveis lhes oscilassem a horizontalidade.

De repente, não mais que de repente, as nuvens começaram a chorar seus prantos, numa chuva macia que inundava e arrefecia aquela paisagem de pedaços. Aos poucos, as lacunas respirantes foram aumentando e os vãos entre as flores se alargando. Desnudado, o chão foi sentindo falta da delicadeza dos carinhos daquele floreio, cadenciado entre os movimentos dançantes e o som suave de seu balançado.

Guardadas as sensações sem ressentimentos, logo elas tornar-se-ão outras, abrindo o inesperado para cada parte dessa composição.

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