29 agosto 2012

CHÁ DE SUMIÇO


CHÁ DE SUMIÇO



Me mandaram um pacote, verdinho, até bonito. Coloquei-o em cima da mesa, acendi uma vela, fiquei olhando para ele e pensando: “sumiço” não é coisa de mágico desaparecimento, não. Ele não é “nada”, não se esvai no ar, não é vazio : é material complexo, de pegajosa e muita humanidade  - e umidade. É perigoso, sei. Por isso não quero abri-lo, temo seu embutido poder de Pandora – espalhará mais sombras, algum morcego talvez, pelo meu ninho forrado de preocupações?
           É um presente o que ele contém? – uma armadilha, talvez? Em matéria de presente, confesso, preferia um maço de rosas – sem espinhos, claro. Em matéria de armadilhas, já conheci e provei tantas, vida afora, que o hábito de sofrê-las matou-me a curiosidade, de vez.
           Em matéria de chá, preferia um daqueles bem elaborados da Romana com mil coisices gostosas, com alentado papo e risadinhas de contentamento – à falta absoluta do quê, na cidade absolutamente morta, defunta já, nestes feriadões....só me resta a gastura.
         O chá de Sumiço – que venha.Que seja.

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