24 março 2012

URBE

Por Paola Benevides



A lixeira cheia, o vaso vazio.
Bem podiam florescer nele umas mudas de papel
- amassado, higiênico, reciclado, machê, colorido
Ou uns pés de restos de comida, brotos de ração.
Mas, claro, sem aquele odor apodrecido
Nem chorume de laranja a deixar rastro pelo chão.

Toda cidade carrega no tom, é um outono bravio
Lança suas folhas ao vento, perde árvores em vida.
Pavio indomável de queimadas, cigarros e chaminés.
Há xamãs e manés entremeando esquinas, meninas.
Todos a pé, calçando os pecados na descrença,
Amarrando cadarços aos tropeços do destino:

Cadafalso.

No asfalto ainda faltam as sementes que alto crescerão.
Trilhos vazios de vagão desencarrilham trens-fantasma.
Limpadores de para-brisa com seus malabares no semáforo.
Pedinte, vira-lata feito um cão, áurea zumbi à caça de miolos.
E por sobre tudo que é flor, humano, rolos de compressão.



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