11 fevereiro 2012

LIVRO-LHE

Por: Paola Benevides




Seu toque era um prurido causado por bolor de livro antigo que contava histórias de uma vida através dos poros de outras raras existências. Abriram-se feridas pelas traças compenetradas, sanguessugas a banquetear suas veias cavas, galgando teias estanteadas, remexendo as prateleiras de aranha. 

De tanto amarelar-se, década após década, passou a desencadear uma marromice aguda, que combinava em muito com a madeira da escrivaninha nunca antes reformada. Preservava todas as notas em rabiscos de caneta, ranhuras e falhas.

Era erva-daninha a sustentar toda floresta de palavras, desgastada pelo uso de vistas cansadas que pendiam óculos e perdiam máscaras com o tempo. Certo dia, virou natureza morta, tivera as folhas arrancadas a fim de servir como forro de sótão para que pintassem tela, para que pisassem nela, feito folhas tortas ao chão.


2 comentários:

Cecilia Prada disse...

Mais um texto que dá vontade de se comer - com traças e carunchos, e tudo - de tão lindamente escrito!parabéns duplos, Paolinha, pelo texto e pelo aniversário...

Unknown disse...

Cecília, quanto carinho nutro por ti... Muito obrigada pela sensação compartilhada e pela lembrança. Sigamos nos lendo, bonitas.

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