04 janeiro 2012

PEDAÇOS DE ARCO-IRIS EM DESUSO

PEDAÇOS DE ARCO-IRIS EM DESUSO



 (“Talvez todos nós, um dia, tenhamos visto o rosto de Deus e por isso evocamos a beleza.” – Hilda Hilst )







E que faremos nós dos pedaços de arco-iris em desuso descobertos no quarto dos guardados da memória, nesta véspera de Ano Novo? Dos fragmentos de dias felizes que pareciam estar perdidos para sempre no pó do todo-dia de lutas mil e que não conseguimos nunca devidamente encaixar uns nos outros segundo arcaicos desenhos, coerentes, para formar  arco-da-aliança com a outra ponta  - que sempre perseguimos mas que foi cada vez mais se afastando?
       Que faremos nós de nossas reticências, de nossas covardias, de nossas resistências, das palavras que nunca dissemos –sufocadas ficaram, engasgadas na nossa pequenez, trancadas para sempre em um armário que nunca se abrirá, emudecidas, atoladas no charco do pensamento, assim permanecerão?
·          
Mas de repente, após a primeira noite bem dormida, ela, a Escritora, abriu os olhos e viu: a poesia que ainda brincava, serelepe, luminosa, nas coisas do cotidiano, as pequenas coisas, palavras também, palavras que se escondiam – piscando-lhe o olho – nas frestas dos acontecimentos, no rosto dos amigos com quem passara o Réveillon, na alface que comprara na feira, no recado de alguém distante, na face múltipla da vida : no seu multiser.
          (Uma via-láctea de esperanças, possível ainda?)

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