01 janeiro 2012

SUÍTE EM SOL MAIOR PARA VIOLONCELO


 
à Erica Beatriz Navarro, pelos arco-íris que vieram...
e pelos que virão


Hoje eu vim pra esse café... étnico. Uma viola, como em mágica, emerge de comas orientais. Sou como o violão de sete cordas a acompanhar essa melodia – às vezes melancolia – que é viver. Tal qual essa voz latina que confunde os ouvintes... canto, pranto, louvor... seja o que for, co-move.

E hoje chove, pra completar. A vida faz mesmo pinturas lindíssimas dessas incompletudes...

Pinturas... no café, elas são de origem aborígene. Esferas de toda sorte de cores e dimensões; ou simplesmente bolinhas coloridas de vários tamanhos que se unem e formam coisas, bonitas coisas.

A luz hoje parece especialmente baixa... como se reservasse reluzentes surpresas. Como se guardasse segredos a sete claves.

Claves de Sol, pra essa noite chuvosa, naturalmente... Mas agora: silêncio. Esse silêncio sempre também musical, nesse momento com jeito de prelúdio faz meu eu-violão serenar, corda-a-corda.

Súbito, ecoa pelo espaço o som de saltos, descendo as escadas, como em passos de flamenco. Balada de encontro: chuva e Sol.

No céu desse café, vejo o lustre como a volta de vinte planetas pródigos para a casa. Ansiosos e calmos. Sábios e esperançosos. Uma assembléia cósmica reunida para testemunhar um quê de beleza terrena... Nela.


Ela era como o Sol. Como o Sol daquela suíte de Bach. Simultaneamente, ela era tão parte daquilo tudo, que me fazia crer, às vezes, que aquele violoncelo, como em milagre, movia-se na verdade por si só, entre os tons e vibrações daquele momento.

Ela era a essência daquela beleza de Terra. Mas era mesmo e também a alma daquele toque. E eu, que sempre amei o som de violoncelos, amei mais ver aqueles olhos cantarem cada detalhe de vida naquela musicalidade bachiana.

Era como uma mandala saltada da parede iluminada, encarnada em movimentos tenros, suaves, tocantes... Linda!

Fiz a pausa em minha coreografia de palavras, assim que seu arco tirou a minha alma pra dançar...


Despertei ao som de aplausos e sequer tive meios de me levantar para aplaudir em pé. A voz em mim que diria, às minhas pernas: “movam-se”, ainda estava na viagem de volta pra lá, depois de passeios lindos naquela sonoridade toda, sincrônica e harmoniosa, a lugares nunca antes visitados das maneiras como os visitei naquele instante.

A chuva logo passou e, fora do café, era noite. Lembrei de como tudo começou e agradeci à vida pela sabedoria de ser mesmo completa, afinal.




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