16 fevereiro 2011

TODAS AS CORES DO SILÊNCIO

TODAS AS CORES DO SILÊNCIO

Por Cecília Prada

O silêncio não tem cor de vácuo, não. Cor de não-ser,cor de irremediável. Não. Nada disso. Vou te contar um segredo: o silêncio é vivo. E bem disfarçado, no mais das vezes – rei da arlequinada, da derrisão. Multiforme, multicolorido – ora, é só raspar a camadinha mentirosa de seu negrume e ter paciência para ir descobrindo aos poucos o que debaixo dela, ah!...sim, sim, o coelhinho matreiro que vai surgir aos poucos da paisagem brumosa, ah! sim, com certeza. Coelhinho-monstro, será?
Teremos coragem, paciência, para esperar vir –num repente – toda a complexidade, a beleza : do Silêncio?
Entrementes...(mentes? Eu, não) diríamos, nos valendo dos sempre-outros : Clarice, “Ouve-me, Ouve meu silêncio!”. Ou Lobo Antunes, o genial lusitano, “...o entrelaçado de mil vozes de que o silêncio é feito ”.
Aquilo que-existe no lugar onde não se fala. O que está ali pisca-piscando, insinuante, dependurado fruto do Bem e do Mal – à espera de nossa ousadia, para ser colhido. É o que falta – aquilo que, de tão dolorosa presente complexa existência ineludível, teve de ser suprimido. Por quem? Ora, isto no momento não pode nos interessar: não temos repentes sociológicos, filosóficos que sejam, e também não nos ocupamos de história, ou antes, já por demais nos ocupamos de tais coisas – somos agora, tão só e isto sim, gente vagando solta à procura de palavras, as muitas (precárias, insuficientes) que vieram conosco e nossas civilizações, para dizer o que ainda não pensamos, o que é poeira só, entulho, de vivências várias, de errantes aspirações.
E o silêncio tem também sexos. Diferente, no homem, na mulher. E nos sexos intermediários, é claro. E idades, sim o silêncio tem suas idades, circunstâncias.
Tem até seus próprios silêncios, o danado – o momento em que, desajeitados, nos tornamos tão tagarelas (para disfarçar) e tentamos escrever uma crônica, será?
(Uma coisa é certa: para todo aquele que quiser entrar nos arcanos do silêncio, o instrumento primeiro, imprescindível, é mesmo um facão de bom tamanho e gume certo, a se conservar à mão, para romper, no momento que se quiser ou precisar - o silêncio).






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