28 agosto 2010

CAMARÕES VERDES FRITOS

Orson Welles senta em uma praia, com um bom vinho de um lado, e um ponte de camarões fritos do outro. Senta e assiste as ondas baterem na areia como um clímax de filme de Antonione. Logo, escuta o motor de um carro por trás de si, vem Anna Karina em um calhambeque vermelho, gritando junto com o som do motor: VRUMM! VRUMM! Anna sai do carro e vai se sentar ao lado de Welles.
- Bom dia, Sr. Wells!
- Bom dia, bom dia, BOM DIA!!!! – grita Wells, embriago.
Anna pega do pote de camarões um que em muito se parece com Jean Luc Goddard e o come. Wells prossegue falando.
- Ontem mesmo estava a fugir de crocodilos nos esgotos de Berlim, agora me encontro aqui nesta praia a esperar uma carta. Sabe de quem é a carta?
- É de…
- É de Stroheim! Ele me acusou de ser uma diva e prometeu completar seu argumento em uma carta. Mas só espero porque perdi nas cartas com ele, o miserável! Sabe, Anna, a vida é um poço de intrigas que nenhum dinheiro faz por engolir. Já me apaixonei por mulheres, já me apaixonei pelo público, mas todos me desiludiram. Deviam ter ficado onde estavam, limitados a uma hora e meia de um bom filme. Pois fora do cinema, são tão humanos, tão cheios de erros, tão decepcionantes. Não se pode esperar nada deles. Só os camarões cumprem o que prometem.
- Eu lhe trouxe uma carta, mas não é de Stroheim.
- É de quem, então?
- Ah, não posso dizer, ou melhor, não sei realmente dizer de quem é. Mas se não quiser lê-la, posso muito bem pegar uma tesoura e fazer homenzinhos de papel, esses também cumprem tudo o que prometem.
- Não, não, me passe ela!
Anna o entrega a carta. Wells rapidamente a abre e vê seu conteúdo, deixa-a cair em seu colo e com olhos arregalados, quase em choro, olha para o horizonte. Na carta só há uma palavra: Rosebud!

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